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segunda-feira, 14 de março de 2011

Profissão: Protetor Indígena


Somente conhecendo a rotina de um profissional que podemos avaliar o quão importante é o seu trabalho e o tamanho dos desafios que enfrentam. Da mesma forma, é necessário conhecer o trabalho de quem está atuando nas Frentes de Proteção Etnoambiental (FPE), da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).


A FPE foi criada para atender as demandas especiais das comunidades indígenas isoladas e de recente contato. Distintamente do que fazem as coordenações regionais (CR’s), as FPE’s não se relacionam diretamente com os grupos étnicos. O interesse precípuo é a preservação do território, reduzindo a ameaça de invasões de povos não indígenas em suas terras.


Para tanto, a equipe define estrategicamente a localização de uma base de vigilância. Inicialmente, busca-se averiguar a existência de indígenas através de vestígios encontrados na mata. Caso sejam encontrados, uma análise é feita para tentar identificar a que tipo de comunidade étnica aqueles vestígios estão relacionados. Quando da ciência da existência de um determinado grupo, a preocupação da FUNAI é protegê-los das ameaças externas. Ao contrário do que se fazia anteriormente, os profissionais não buscam estimular um contato, mas manter a integridade dos membros, de sua cultura e de seu território.


Este trabalho, porém, é repleto de desafios. Os profissionais do quadro da FUNAI, como os recém-nomeados auxiliares em indigenismo, enfrentam dificuldades como: (i) animais silvestres; (ii) pouco conforto nas bases; (iii) mata densa e complicada e; (iv) entre outros. Para exemplificar os desafios, acompanhamos o deslocamento de uma equipe da capital do estado de Rondônia (Porto Velho) até a base de proteção localizada a mais de 200 quilômetros de distância.


A saída ocorreu em 02 de março de 2011 por volta das 06 horas. Após percorrer um considerável trecho de uma via federal, entramos em uma estrada de terra para completar a outra parte do percurso. Na medida em que nos aproximávamos do destino, a floresta amazônica mostrava cada vez mais o seu poder, ficando cada vez mais densa e com mais obstáculos.


Defrontamos com animais atravessando a pista, quase perdemos a balsa para atravessar o rio e tivemos que atravessar pontes improvisadas e perigosas em diversos pontos do percurso. Perdemos a conta de quantas árvores caídas na estrada foi necessário retirar para que pudéssemos prosseguir com a viagem. O último tronco caído era tão grande que a única solução foi criar um caminho alternativo em meio à mata. Para agravar o problema, abelhas estavam por toda a parte atrapalhando o trabalho dos que retiravam as árvores caídas.



A equipe decidiu ir caminhando, quando estavam a cerca de 7 km do destino devido ao imenso tronco no caminho, e no trajeto eles aproveitavam e observam as “picadas” e pegadas encontradas no meio do caminho. Ao final da viagem, o grupo chegou a base de apoio às 14h30min, perfazendo um tempo de 8 horas e 30 minutos de viagem.



Para efeito de comparação e mostrar como os troncos no caminho atrasaram a viagem, o percurso de volta teve início às 07h00min e o nosso destino foi alcançado por volta das 12 horas. Em outras palavras, 3 horas e 30 minutos de diferença. Visto que o caminho para a base estava desobstruído no dia do retorno.



O objetivo da viagem não era exatamente acompanhar as atividades desenvolvidas pelos funcionários da FPE, mas, entre outras coisas, acompanhar as dificuldades que os mesmos enfrentam em suas desafiantes rotinas de trabalho. Se levarmos em consideração, ainda, que outras frentes o acesso é ainda mais complicado, como por exemplo, o acesso de uma das bases do rio Purus leva dias por via fluvial. Veremos, então, que todo o trabalho é na verdade uma grande aventura.



Além disso, o desafio de localizar grupos indígenas impõe aos funcionários uma rotina pesada de trabalho como a exploração da selva, ficando a equipe, por vezes, várias semanas distante da cidade. Os riscos envolvidos na operação, como onças, cobras, jacarés e pessoas mal intencionadas são uma constante para os funcionários aventureiros da Fundação Nacional do Índio.


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